Literalmente, a expressão acima designa qualquer tipo de troca que se realize entre duas ou mais pessoas, o que, aliás, remonta aos primórdios da humanidade, pois antes do advento da moeda, os homens se viam obrigados a trocar coisas e objetos entre si, a fim de proverem as suas necessidades de sobrevivência. Trocava-se o machado de pedra, pelo couro de um animal. Trocava-se uma lança por um pouco de comida. E assim ia.
A despeito da criação da moeda, esse costume varou os tempos, chegando ao mundo contemporâneo. Atualmente, troca-se de tudo: de bens; de casais; de serviços; de partidos políticos; de ideologia; de religião, de caráter; de princípios. Já se troca até de órgãos. Daqui a pouco se trocará de corpo… De alma, acredito que não se poderá trocar….
Viajando no tempo, retorno às décadas de 60 e 70, nas quais dois tipos de troca-trocas eram muito comuns entre jovens e crianças: o troca-troca de gibis e o troca-troca de figurinhas. Naquele tempo, quase todo guri tinha um álbum de figurinhas e uma coleção de gibis. Levar os gibis, lidos e/ou repetidos para as portas dos cinemas, para trocar com gibis de outros meninos, era uma gostosa diversão. Os álbuns de figurinhas também demandavam um necessário troca-troca de figurinhas repetidas, que possibilitava preencher os vazios dos álbuns… Aquela figurinha difícil, a carimbada ou a oficial, às vezes podia ser encontrada e trocada com outras de igual raridade que alguém tinha e outro não.
Era uma diversão sadia, que permitia aos jovens e crianças estabelecerem relacionamentos sociais e desfrutar de uma dinâmica positiva de aprendizado… Um gibi de faroeste, por exemplo, permitia viajar pelas aventuras da ocupação do Oeste Americano; Um gibi de Tarzam trazia informações importantes sobre a África misteriosa e sua multiplicidade de animais. Trazia valiosos ensinamentos sobre a necessidade de preservação ambiental. Um álbum de figurinhas sobre a Copa do Mundo, podia contar a história do futebol brasileiro e dos seus grandes craques. Um álbum, sobre Mato Grosso, podia conter informações sobre a história, a geografia e as riquezas naturais do Estado.
O troca-troca provém da própria natureza humana: uma busca de satisfação de suas necessidades e carências, de superação de seus medos e limitações. Por isso o troca-troca não pode ficar confinado aos escaninhos da vergonha ou escondido sob os pudores do falso moralismo. Se há uma popular conotação pejorativa em um de seus significados, qual seja, a relação sexual entre meninos, comum na idade pré-adolescente dos infantes, há que se reconhecer que, também ai, se revela a complexidade da alma humana, de um ser sempre em busca de si mesmo, principalmente quando se olha no reflexo de seus semelhantes.
Ainda bem que a roupagem nova do troca-troca desmistifica a expressão e invade a modernidade das novas gerações, através de sites de troca-trocas na internet, como o www.trocatrocabrasil.com.br e como o trocaetroca.com.br, que são canais abertos à desenvoltura dos internautas, facilitando a vida de todos com infinitas possibilidades de trocas. Trocam-se roupas. Casas na Praia. Muletas e Bengalas. Troca-se de amor, como canta a letra da música dos The Fevers:
“Troco um grande amor que não está se dando bem Aceito um sentimento original, se você tem Quero garantia e recuso imitação Me faça sua oferta e traga toda a emoção Troca, troca, troca, troca, troca de amor Vira e mexe, troca, troca um novo sabor Troca, troca, troca, troca, troca de amor De onde vier, seja onde for”
Maurides Celso Leite (um cuiabano de convicções firmes, que não são trocáveis por nada, menos ainda por vantagens efêmeras ou por falsos valores, mas que enriqueceu sua alma trocando a ignorância pela sabedoria, a grosseria pela gentileza, o ódio pelo perdão, a vingança pela justiça, a paixão pelo amor).