Faleceu anteontem, em Cuiabá, uma das pessoas mais folclóricas e queridas que a nossa cidade já teve o prazer de conhecer: JEJÉ DE OYÁ!
Jejé era estridente como colunista social e esfuziante, como pessoa. Decerto, foi um dos personagens mais marcantes desta cidade borora, em cuja sociedade trafegava de cima abaixo, entre ricos e pobres, com igual glamour, desenvoltura e irreverência.
Eu não fui amigo de JEJÉ. Conhecia-o, porém, das crônicas sociais. Das suas apresentações no Rádio e na Televisão. Dos desfiles de carnaval em que ele colocava toda a sua rica criatividade a serviço do humor, da beleza, da ironia, da provocação, da alegria.
Conhecia-o porque ele era funcionário aposentado do Ministério da Fazenda e eu fui Procurador da Fazenda Nacional, cuja Procuradoria ele muito frequentava, pois era um grande amigo do Dr. Miguel Biancardini Neto, que chefiou dita Procuradoria por muitos anos.
Lembro-me que JEJÉ foi à nossa posse, em 01/06/1993, na antiga sede da PFN, no alto da Getúlio Vargas, em frente ao extinto Bar Internacional.
Irreverente, como sempre, JEJÉ, logo que avistou os novos Procuradores, foi sapecando de bate-pronto: – Parabéns, Miguel, pela posse dos meninos, Fabio Junior, Raul Gazola e Roberto Bonfim! Assim ele nominou, festiva e respectivamente, os Procuradores, Osvaldo Antonio de Lima, Jose Valter Toledo e a mim, Maurides Celso Leite.
Dizia JEJÉ, cheio de ironia e malícia, que o Dr. Miguel teria respondido: Não vem ciscar no meu terreiro!
Ele também foi cliente do escritório de advocacia de meu filho, Itallo, que o representou em algumas demandas funcionais.
De vez em quando nos cruzávamos pelos corredores do Ministério da Fazenda ou na Agência da Caixa Econômica sediada no mesmo prédio do Ministério.
Lembro-me da última vez em que nos falamos, na agência da CEF, ele já bastante debilitado. Percebi nele uma centelha de tristeza por ter perdido, com a idade e a doença, o domínio sobre as suas coisas, sua vida… Logo ele que era um vulcão, que esbanjara energia e vitalidade por longas décadas pelas ruas, avenidas, palcos e salões desta nossa cidade!
Escrevo estas linhas despretensiosas apenas para registrar meu pesar pela morte de JEJÉ, certo de que alguém como ele não devia morrer, mas ser eternizado em graça, alegria e humor, riquezas que tanta falta nos fazem neste mundo em que triunfam os bandidos e prosperam as nulidades!
Vai JEJÉ!
Vai em paz!
Viva JEJÉ!
VIVA NA GLÓRIA… DE DEUS PAI!
Maurides Celso Leite (um anônimo Cuiabano, reverenciando a memória de um homem que, sendo gay, negro e pobre, fez-se conhecido, reconhecido e respeitado entre nós, a despeito dos preconceitos latentes nesta nossa tão festejada democracia multirracial).