JEJÉ DE OYÁ

Faleceu anteontem, em Cuiabá, uma das pessoas mais folclóricas e queridas que a nossa cidade já teve o prazer de conhecer: JEJÉ DE OYÁ!

Jejé era estridente como colunista social e esfuziante, como pessoa. Decerto, foi um dos personagens mais marcantes desta cidade borora, em cuja sociedade  trafegava de cima abaixo, entre ricos e pobres, com igual  glamour, desenvoltura  e irreverência.

Eu não fui amigo de JEJÉ. Conhecia-o, porém, das crônicas sociais. Das suas apresentações no Rádio e na Televisão. Dos desfiles de carnaval em que ele colocava toda a sua rica criatividade a serviço do humor, da beleza, da ironia, da provocação, da alegria.

Conhecia-o porque ele era funcionário aposentado do Ministério da Fazenda e eu fui Procurador da Fazenda Nacional, cuja Procuradoria ele muito frequentava, pois era um grande amigo do Dr. Miguel Biancardini Neto, que chefiou dita Procuradoria por muitos anos.

Lembro-me que JEJÉ foi à nossa posse, em 01/06/1993, na antiga sede da PFN, no alto da Getúlio Vargas, em frente ao extinto Bar Internacional.

Irreverente, como sempre, JEJÉ, logo que avistou os novos Procuradores, foi sapecando de bate-pronto: – Parabéns, Miguel, pela posse dos meninos, Fabio Junior, Raul Gazola  e Roberto Bonfim! Assim ele nominou, festiva e  respectivamente, os Procuradores, Osvaldo Antonio de Lima, Jose Valter Toledo e a mim, Maurides Celso Leite.

Dizia JEJÉ, cheio de ironia e malícia, que o Dr. Miguel teria respondido: Não vem ciscar no meu terreiro!

Ele também foi cliente do escritório de advocacia de meu filho, Itallo, que o representou em algumas demandas funcionais.

De vez em quando nos cruzávamos pelos corredores do Ministério da Fazenda ou na Agência da Caixa Econômica sediada no mesmo prédio do Ministério.

Lembro-me da última vez em que nos falamos, na agência da CEF, ele já bastante debilitado. Percebi nele uma centelha de tristeza por ter perdido, com a idade e a doença, o domínio sobre as suas coisas, sua vida… Logo ele que era um vulcão, que esbanjara energia e vitalidade por longas décadas pelas ruas, avenidas, palcos e salões desta nossa cidade!

Escrevo estas linhas despretensiosas apenas para registrar meu pesar pela morte de JEJÉ, certo de que alguém como ele não devia morrer, mas ser eternizado em graça, alegria e humor, riquezas que tanta falta nos fazem neste mundo em que triunfam os bandidos e prosperam as nulidades!

Vai JEJÉ!

Vai em paz!

Viva JEJÉ!

VIVA NA GLÓRIA… DE DEUS PAI!

Maurides Celso Leite (um anônimo Cuiabano, reverenciando a memória de um homem que, sendo gay, negro e pobre, fez-se conhecido, reconhecido e respeitado entre nós, a despeito dos preconceitos latentes nesta nossa tão festejada democracia multirracial).

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“AGORA É LÉO!”

Nunca uma expressão se fez tão feliz e oportuna quanto o bordão, “Agora é Léo!”

Essa voz altissonante da nova OAB-MT ressoa fundo, perto e longe, aqui e acolá. Naturalmente. De modo espontâneo!

Na verdade, o “Agora é Léo!” é mais do que um bordão! É a constatação de que aqui e agora é o tempo de fazer a hora e de não esperar acontecer.

O “Agora é Léo!” sinaliza, claramente, para um novo tempo, de fazejamento e compromisso, em que a OAB-MT, mais do que nunca, precisa estar sintonizada com os anseios dos advogados e com as lutas da sociedade.

A expressão “Agora é Léo” é um achado… De um pequeno grande líder que se forjou nas lides da advocacia e da OAB-MT, nas quais se nutriu de todos os talentos e competências necessárias para ser o homem da vez na direção da Casa dos Advogados.

Pertinente recitar uma conhecida parêmia popular: “Antes da hora não é hora! Depois da hora não é hora! A hora tem que ser na hora!

E a hora da nova OAB-MT é agora! E Léo, caros colegas, é o homem certo, na hora certa, no lugar certo, para gerir a nossa casa.

Agora é Léo!”

E vamos todos a bordo dessa idéia construir um novo tempo na OAB-MT, pois, “quem sabe faz a hora e não espera acontecer”!

Agora é Léo!”

Leonardo Campos, para Presidente da OAB-MT

Maurides Celso Leite (um advogado trintenário na OAB-MT, rendendo homenagem a um jovem, experiente, competente e bem sucedido advogado, Leonardo Campos, que reúne os melhores predicados para presidir a OAB borora e para fazê-la brilhar nos cenários institucional, social e democrático deste país).

 

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“Quem Foi Dona Massi?”

Quem foi dona Massi, perguntariam uns?  Que apito que tocava, perguntariam outros? Não sei e nem me interessa saber, responderiam os arautos da indiferença!

Pois é, amigos, Dona Massi foi um desses personagens anônimos que povoam o cotidiano de nossas vidas! Uma daquelas vizinhas da nossa Cuiabá antiga, que nos socorria, quando precisávamos duma camisa nova, duma palavra amiga ou, mesmo d’um prato de comida. Ela era dona de casa. Costureira. Devota de São Benedito. Fazia parte da famosa equipe de Cozinheiras de São Benedito. Há mais de 40 anos emprestava seu labor incansável ao fazejamento dos quitutes deliciosos servidos nas festas de São Benedito, N. S. do Rosário e N. S. do Carmo.

Como disse o Padre Roque em sua despedida, Dona Massi foi uma voluntária incansável das causas da fé e da devoção a São Benedito. Eu tive o privilégio de ser seu vizinho de parede-e-meia. Vivia enfiado em sua casa, ouvindo as hilariantes estórias que Zé Canhambola,  seu saudoso marido, contava. E ele era bom de causos, contos e piadas. Num velório, passava a noite inteira desfiando risos numa roda de pessoas. De vez em quando, esquecido do tempo, ouvindo as estórias de seu Zé, eu pegava uma beira nos quitutes que Dona Massi cozinhava. E ela sempre com aquele sorriso bonito escancarado em seu rosto sereno.

O tempo e o progresso levou-nos para longe. Eu cresci, casei, mudei de bairro, deixei de ser seu vizinho. Mas aquele carinho, nascido na minha infância, perdurou para sempre. Vez ou outra nos encontrávamos. Sua casa dava fundos para a Rua Gago Coutinho, bem em frente à casa de minha sogra – Maria de Anísio.  As duas foram grandes amigas. De se visitarem. De irem às missas juntas. De jogarem conversa fora em tardes e noites de muita amizade, afeto e respeito.

Há pouco tempo, minha sogra, minha mulher e eu, tivemos o privilégio de participar da comemoração de seus 90 anos. Ela estava radiante. Muito feliz por ter a família e os amigos à sua volta… Muitos amigos de longuíssima data foram abraça-la: D. Juja, parenta, amiga, companheira de fé e devoção,  ao logo desses anos todos, estava lá para testemunhar sua amizade e dedicação…

Hoje, nos encontramos novamente: eu, minha mulher, minha sogra, Dona Juja e Dona Massi… Infelizmente, no velório desta… Deus a chamou de volta para a Morada de Cima…Estava precisando de uma boa cozinheira no céu!

Conosco ficou a saudade e o sabor da Maria Isabel, da Paçoca de Pilão e do Feijão Empamonado, que ela ajudava a fazer na cozinha de São Benedito, nas Festas do Santo Negro, de N. S. do Carmo e de N. S. do Rosário. Descanse em paz, vizinha!

Eis quem foi Dona Massi!

Maurides Celso Leite (Um guri da Rua Osório Duque Estrada, bem ali da beira do Córrego da Prainha… Quase em frente do Poço de seu Dito de Dona Cidú… Um pouco abaixo do famoso Tanque do Baú, tangenciando a saudade serena de uma vizinha tranquila e doce que se ausentou de nosso convívio para viver a eternidade).

 

 

 

 

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Troca-Troca

Literalmente, a expressão acima designa qualquer tipo de troca que se realize entre duas ou mais pessoas, o que, aliás, remonta aos primórdios da humanidade, pois antes do advento da moeda, os homens se viam obrigados a trocar coisas e objetos entre si, a fim de proverem as suas necessidades de sobrevivência. Trocava-se o machado de pedra, pelo couro de um animal. Trocava-se uma lança por um pouco de comida. E assim ia.

A despeito da criação da moeda, esse costume varou os tempos, chegando ao mundo contemporâneo. Atualmente, troca-se de tudo: de bens; de casais; de serviços; de partidos políticos; de ideologia; de religião, de caráter; de princípios. Já se troca até de órgãos. Daqui a pouco se trocará de corpo… De alma, acredito que não se poderá trocar….

Viajando no tempo, retorno às décadas de 60 e 70, nas quais dois tipos de troca-trocas eram muito comuns entre jovens e crianças: o troca-troca de gibis e o troca-troca de figurinhas. Naquele tempo, quase todo guri tinha um álbum de figurinhas e uma coleção de gibis. Levar os gibis, lidos e/ou repetidos para as portas dos cinemas, para trocar com gibis de outros meninos, era uma gostosa diversão. Os álbuns de figurinhas também demandavam um necessário troca-troca de figurinhas repetidas, que possibilitava preencher os vazios dos álbuns… Aquela figurinha difícil, a carimbada ou a oficial, às vezes podia ser encontrada e trocada com outras de igual raridade que alguém tinha e outro não.

Era uma diversão sadia, que permitia aos jovens e crianças estabelecerem relacionamentos sociais e desfrutar de uma dinâmica positiva de aprendizado… Um gibi de faroeste, por exemplo, permitia viajar pelas aventuras da ocupação do Oeste Americano; Um gibi de Tarzam trazia informações importantes sobre a África misteriosa e sua multiplicidade de animais. Trazia valiosos ensinamentos sobre a necessidade de preservação ambiental. Um álbum de figurinhas sobre a Copa do Mundo, podia contar a história do futebol brasileiro e dos seus grandes craques. Um álbum, sobre Mato Grosso, podia conter informações sobre a história, a geografia e as riquezas naturais do Estado.

O troca-troca provém da própria natureza humana: uma busca de satisfação de suas necessidades e carências, de superação de seus medos e limitações. Por isso o troca-troca não pode ficar confinado aos escaninhos da vergonha ou escondido sob os pudores do falso moralismo. Se há uma popular conotação pejorativa em um de seus significados, qual seja, a relação sexual entre meninos, comum na idade pré-adolescente dos infantes, há que se reconhecer que, também ai, se revela a complexidade da alma humana, de um ser sempre em busca de si mesmo, principalmente quando se olha  no reflexo de seus semelhantes.

Ainda bem que a roupagem nova do troca-troca desmistifica a expressão e invade a modernidade das novas gerações, através de sites de troca-trocas na internet, como o www.trocatrocabrasil.com.br e como o trocaetroca.com.br, que são canais abertos à desenvoltura dos internautas, facilitando a vida de todos com infinitas possibilidades de trocas. Trocam-se roupas. Casas na Praia. Muletas e Bengalas. Troca-se de amor, como canta a letra da música dos The Fevers:

                                                                                                                                                  “Troco um grande amor que não está se dando bem                                                                                                                                                                                                                                                                               Aceito um sentimento original, se você tem                                                                                                                                                                                                                                                                                              Quero garantia e recuso imitação                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Me faça sua oferta e traga toda a emoção                                                                                                                                                                                                                                                                                           Troca, troca, troca, troca, troca de amor                                                                                                                                                                                                                                                                                            Vira e mexe, troca, troca um novo sabor                                                                                                                                                                                                                                                                                            Troca, troca, troca, troca, troca de amor                                                                                                                                                                                                                                                                                                         De onde vier, seja onde for”

Maurides Celso Leite (um cuiabano de convicções firmes, que não são trocáveis por nada, menos ainda por vantagens efêmeras ou por falsos valores, mas que enriqueceu sua alma trocando a ignorância pela sabedoria, a grosseria pela gentileza, o ódio pelo perdão, a vingança pela justiça, a paixão pelo amor).

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No Tempo dos Carros de Praça

Quando menino, pelos meados da década de 60, morava no Bairro do Baú, cujas ruas não tinham calçamento, como a maioria das ruas dos “arrabaldes” de Cuiabá. Eram ruas de terra, cheias de pó, esburacadas pelas chuvas. Então, não havia sistema de transporte coletivo, como hoje se conhece. O transporte de passageiros era feito através de veículos-lotação, na maior parte das vezes, Kombis Volksvagem, ou através de alguns poucos “carros de praça” que existiam na cidade.

Eu me recordo de três “choferes de praça” que moravam nas imediações do Baú: Seu Gonçalo, que residia na Rua Vila Maria, no larguinho, vizinho da Professora Demitilde e de seu Delfino Bocó. Ao lado de onde é, hoje, o Fato – Curso Preparatório para Concursos,  já na divisa com o centro da cidade. O outro, Seu Ricardo, pai do meu amigo Amauri, que morava no Beco, entre a Rua de Baixo e a Rua do Meio, perto do Hotel Baia e da Ponte de João Gomes. Limite do centro com o Bairro do Baú. Por fim, Tuca Farofa, que veio a ser nosso vizinho, na Rua Tenente Coronel Duarte, hoje, Rua Osório Duque Estrada, próximo de onde funciona o Hospital Ortopédico e de onde ficava a casa de dona Juja, a famosa cozinheira de São Benedito.

Seu Gonçalo era turrão. Não gostava de levar passageiro bairro adentro, para não sujar seu carro de praça de poeira ou lama. Se quisesse, ele fazia a corrida, mas somente até a entrada do bairro, nas imediações da Ponte de João Gomes. Seu Ricardo, apesar de um pouco ranzinza, já era mais maleável. Se a corrida fosse boa, aceitava o passageiro e se aventurava entre os buracos e poças de lama que a água de chuva espalhava pelo bairro. Tuca Farofa, como morador do bairro, não impunha restrições. Era mais pragmático e boa praça. Pagando, levava o passageiro ao bairro e ainda lhe contava boas estórias. Isso tudo eu sei de experiência própria, através das peripécias que vivi, menino e adolescente, nas andanças com meus pais, nos vai-e-vem com os amigos, ou através das histórias contadas pelos mais velhos, como o meu saudoso sogro, Anísio.

Chofer é um aportuguesamento da expressão francesa, “CHAUFFEUR”, que significa, resumidamente, condutor de veículo. Carro de Praça era como se chamava o táxi de hoje. O preço da corrida era estabelecido por acordo. O passageiro dava o local de destino e o CHOFER dizia qual era o preço a ser pago. Você podia regatear pra conseguir melhor preço, o que dependeria dos seus argumentos e da boa vontade do chofer.

Apesar das dificuldades de locomoção, a vida era boa. Você empoeirava os pés, enlameava os sapatos, sujava as roupas, mas tinha liberdade de viver. De ir e vir sem sobressaltos. Ninguém se preocupava com trombadinhas ou arrastões… que não os havia. A notícia ruim custava a chegar. Às vezes, quando chegava, já não era mais tão ruim assim. Diferente de hoje em que a notícia é capaz de chegar antes dos fatos. Virtualmente. O mundo surreal que o pintor espanhol Salvador Dali imortalizou em suas telas, modernamente ganhou contornos de realidade virtual. A internet nos aproxima da informação, mas nos distancia dos fatos. Hoje vivemos a realidade-do-faz-de-conta.

Diante das atribulações atuais, chego a sentir saudades dos tempos em que as ruas não tinham calçamento e o chofer de praça não se atrevia a entrar com o seu Ford, seu Chevrolet ou seu Simca Chambord preto nas maltratadas ruas do meu bairro… E eu tinha que caminhar, empoeirando os pés ou sujando-os de barro, para ir ao cinema ou para passear na fonte luminosa da Praça Alencastro… Naqueles tempos, tínhamos os pés no chão! Literalmente!

Consola-me, porém, o fato de que esse mesmo instrumento digital que me intimida e me lança ao mundo virtual, resgata-me do passado lembranças, fatos e informações que se projetam – registradas – na memória eletrônica dessa prodigiosa (in)consciência coletiva que alarga os horizontes da humanidade. Hoje faço as minhas corridas a bordo  de um GIGABYTE, sem sair do lugar. Mas, de vez em quando, tomo um carro de praça, só pra atiçar as lembranças e exercitar os neurônios.

Maurides Celso Leite (um guri cuiabano dos anos 60, que se envereda nas modernas trilhas dos sítios da internet, recordando-se, nostálgico, dos tempos em que se aventurava nas trilhas de barro que levavam às cacimbas de água no sítio da vovó Joaninha, no Quebra-Pote).

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Calor de Fritar os Miolos

Nos bons tempos dos meus pais, quando a ciência dos mais velhos, construída sobre vivências ancestrais, era valorizada e respeitada, já se dizia que o calor abrasador do sol cuiabano era capaz de FRITAR OS MIOLOS dos incautos e desavisados… Ficar exposto ao sol, além de provocar malina, podia deixar a pessoa com problemas de cabeça…

Os mais antigos tinham o domínio da natureza em geral e da natureza humana, em particular… Naqueles tempos, não havia tantas coisas e informações a distrair o homem do aprendizado de si mesmo e da inteiração com o seu habitat natural… O saber verdadeiro era o autoconhecimento. O conhecimento do homem e da natureza. Essa era a fonte da sabedoria popular.

Havia o saber das Benzedeiras como Dona Brandina e Dona Beleca. Em nosso meio existiam centenas de pessoas iguais a elas. Simples. Iluminadas. Bondosas. Inspiradas. Sintonizadas com Deus. Capazes de perscrutar a alma humana e extrair delas revelações, sonhos, desejos, fragilidades, e de envolve-las em palavras de fé, rezas e orações, que tinham propriedades curativas para suas carências e necessidades.

Chá de Folha de Laranjeira, era calmante. Queimada de Casca de Laranja, curava gripe. Infusão de Folha de Eucalipto era boa pra tosse, bronquite e sinusite. Gemada era um viagra caipira. Mulher de regra (menstruada) não podia lavar a cabeça. As parteiras, como Dona Micaela, traziam ao mundo as crianças, sem sustos. A mulher parida ficava de resguardo, tomando canja de galinha. Dava-se tempo à natureza para fazer o seu trabalho. Para restaurar a força e a energia da mulher. Para a vida retomar seu curso natural.

A água se armazenava em potes e talhas de cerâmica, dentro de casa. Estava sempre fresquinha. Tomava-se uma gostosa água de moringa… Minha mãe até hoje conserva esse hábito saudável… Não toma refrigerantes e nem água gelada. Gerou sete filhos. Seis nascidos em casa. Com parteira. Tem 17 netos e 17 bisnetos. Aos 81 anos, continua forte e lúcida. Em harmonia com a natureza. Em harmonia com Deus.

O calor era mais suportável porque não havia o asfalto que armazena calor e não retém umidade. Também não havia um enorme buraco na camada de ozônio que protege a terra. E o efeito estufa ainda não havia alarmado o mundo com o aumento do aquecimento global. O clima cuiabano era bem quente, mas nem tanto. Então, o sol não causava tanto estrago porque a camada de ozônio ainda não havia sido estuprada pelos gases CFC’s… As geleiras ainda não estavam ameaçadas pelo aumento da temperatura do planeta.

O calor fritava os miolos, mas havia água em abundância pra gente se refrescar. O rio Cuiabá oferecia uma água limpa e fresca, com muitos locais onde ricos e pobres podiam se banhar. No Coxipó da Ponte, de águas claras e frias, tinha a Praia Rica, onde as famílias faziam piqueniques nos finais de semana. No Cuiabá, havia a Praia do Pacheco, na Cidade Alta, onde passei bons momentos da minha adolescência. Em Santo Antonio, aconteciam temporadas de praia bastante concorridas e animadas. E ainda tínhamos o Rio dos Peixes, o Mutuca, o Rio Claro, a Salgadeira e outros recantos mais, que hoje estão sonegados ao uso do povo. Infelizmente, a incompetência, a ganância, a poluição e os males do  progresso tiraram do nosso alcance o usufruto desses paraísos das águas.

Hoje o sol frita os miolos dos desprevenidos e coloca em risco a saúde do homem. O câncer de pele, que nunca me preocupara antes, quando jogava, sob um sol a pino, as minhas peladas diárias no campo do RANCA TOCO ou QUEBRA-DEDO, agora é uma ameaça que paira sobre todos… A falta de diálogo entre o homem e a natureza levou a essa situação alarmante. Esse calor de fritar os miolos, entretanto, ainda pode ser domado. Basta que o homem se reconcilie com a natureza, passe a pensar no próximo como em si mesmo e procure legar ao mundo a paz, a segurança e o conforto que almeja para os seus… Falta amor, irmãos! Falta Deus!

Maurides Celso Leite (um Cuiabano que se banhava nas águas do Cuiabá, do Coxipó da Ponte, do Córrego da Prainha, do Córrego da Laje, do Córrego do General, e que hoje chora a destruição dessas riquezas naturais, com os olhos ardendo pela fumaça das queimadas que devastam o Cerrado, onde colhia marmelada e algodãozinho, ouvindo o cantar da Juriti).

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Nos Embalos de Sábado à Noite

NO INÍCIO DA DÉCADA DE 70, O MOVIMENTO HIPPIE – DE PAZ E AMOR – PREGAVA A PRESERVAÇÃO DA NATUREZA, O FIM DA GUERRA DO VIETNÃ, A LIBERDADE SEXUAL, A INFORMALIDADE DE VIVER A VIDA SEM COMPROMISSOS “CARETAS”. SE ERA UMA ÉPOCA DE CONTESTAÇÃO DO STATUS QUO, TAMBÉM ERA UMA ÉPOCA DE ROMANTISMO…

OS HOMENS COMEÇARAM A DEIXAR DE SER FORMAIS OU CARETAS E ADERIRAM À MODA DO CABELO COMPRIDO OU BLACK POWER, SAPATOS PLATAFORMA, CALÇAS BOCA DE SINO, ROUPAS COLORIDAS – PSICODÉLICAS, COMO SE DIZIA… ATÉ AS LUZES MULTICORES E FAISCANTES DAS BOATES, ERAM DITAS PSSICODÉLICAS – PRA DANÇAR BEE GEES, FRED MERCURY OU JOHN TRAVOLTA, OU OS NACIONAIS, OS INCRÍVEIS, RENATO E SEUS BLUE CAPS, THE FEVERS, TIM MAIA, A TURMA DA JOVEM GUARDA.

AS MULHERES DESLANCHARAM NA PÍLULA ANTICONCEPCIONAL, SÍMBOLO DA LIBERDADE SEXUAL E DA EMANCIPAÇÃO FEMININA – COMEÇAVA A MAIORIDADE SOCIAL FEMININA… O MUNDO NUNCA MAIS SERIA O MESMO… PANTALONAS COLORIDAS OU BATAS INDIANAS. VESTIDOS CURTÍSSIMOS E BOTAS DE CANO ALTO. VESTIDOS LONGOS E FOLGADOS. SEMPRE CORES BERRANTES.

AS MÚSICAS ERAM DANÇANTES, DISCOTECAS, NOVELA DANCING DAYS, MAS TAMBÉM ERAM ROMÂNTICAS, POIS O AMOR ESTAVA NA MODA… A DÉCADA COMEÇOU COM O TRICAMPEONATO DO BRASIL NA COPA DO MUNDO DO MÉXICO. A MÚSICA PRA FRENTE BRASIL “NOVENTA MILHÕES EM AÇÃO, PRA FRENTE BRASIL, SALVE A SELEÇÃO…” EMPOLGOU A TORCIDA BRASILEIRA… APESAR DO VIÉS NACIONALISTA MILITAR…

RECORDEMOS ALGUMAS MÚSICAS ROMÂNTICAS QUE FIZERAM SUCESSO E EMBALARAM OS CORAÇÕES DOS JOVENS NAQUELA AGITADA DÉCADA: As Rosas Não Falam (1976);  Apesar de Você (1972); Detalhes (1970); Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida (1970); Canta Canta Minha Gente (1974); Você Abusou (1971); Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos (1971); Força Estranha (1978); Gostoso Veneno (1979); Folhetim (1977); Flor de Lis (1976); Sonho Meu (1978); Amada Amante (1971); Grito de Alerta (1979). Mar de Rosas (1978); A Namorada Que Sonhei (1970).

CERTAMENTE, OS ANOS 70 FORAM TEMPOS INESQUECÍVEIS, DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E CULTURAIS. TERMINOU A GUERRA DO VIETNÃ, ACABOU A GUERRA FRIA, MATO GROSSO FOI DIVIDIDO. SUL E NORTE. COMEÇOU O PONTIFICADO DE JOÃO PAULO II, O PAPA PEREGRINO, QUE MUDOU A IGREJA CATÓLICA, RETOMANDO SUA VOCAÇÃO APOSTÓLICA. DEU-SE A LIBERAÇÃO DOS COSTUMES. A JUVENTUDE DESCOBRIU SUA FORÇA, IMPÔS SUA LIBERDADE DE EXPRESSÃO. A MULHER COMEÇOU SUA EMANCIPAÇÃO…

FOI EM MEADOS DA DÉCADA DE 70 QUE INGRESSEI NA FACULDADE DE DIREITO DA UFMT, ONDE UMA TURMA DE COLEGAS (EU, BENEDITO CORBELINO (VIKA), LUIZ CARLOS GOUVEIA, JOAREZ GOMES, RÉGIS VANDER, HILÁRIO CARLOS, LUIZINHO CORREA, ALAIR NEVES, LUIZA E OUTROS), FAZÍAMOS UMA ANIMADA RODA DE SERESTA ÀS SEXTAS-FEIRAS, AO LADO DA UFMT, NO BARZINHO DA ESQUINA (CARINHOSO), EM  FRENTE À LOJA DA CITY LAR DA FERNANDO CORREA… QUASE SEMPRE LÁ ESTAVA CONOSCO O SAUDOSO MESTRE DE DIREITO CIVIL, DESEMBARGADOR LEÃO NETO DO CARMO… QUE ATÉ COMETIA UMAS CANÇÕES CANTANDO NELSON GONÇALVES.

ESSE FOI UM TEMPO MÁGICO. ONDE AS COISAS ACONTECIAM VERTIGINOSAMENTE. COMECEI A DÉCADA MENINO, INGRESSEI NA FACULDADE EM SUA METADE, GRADUEI-ME EM DIREITO E CASEI-ME AO SEU FINAL. NESSE ENTREMEIO VIVI EXPERIÊNCIAS RIQUÍSSIMAS: TORNEI-ME UM HOMEM. COMECEI A TRABALHAR.  TIVE UM FILHO. VIVI OS EMBALOS MAIS GOSTOSOS DOS SÁBADOS À NOITE DA MINHA VIDA…

DEPOIS DE ENTÃO, O MUNDO NUNCA MAIS FOI O MESMO… FOI-SE UM BELO TEMPO DE MINHA VIDA. DESSES DIAS, FICARAM ETERNIZADOS EM MINHAS LEMBRANÇAS MOMENTOS QUE AINDA HOJE FAZEM A VIDA VALER A PENA… FOI NOS EMBALOS DE UM SÁBADO À NOITE, NO DIA 09 DE DEZEMBRO DE 69, NA FESTA DOS SEUS 15 ANOS, QUE EU DANCEI, PELA PRIMEIRA VEZ, COM A MULHER AMADA , AO SOM DA MÚSICA “A NAMORADA QUE SONHEI”! COMECEI A NAMORÁ-LA NO PRIMEIRO ANO DA DÉCADA. CASAMO-NOS EM 78.

Maurides Celso Leite (Um cuiabano romântico, saudoso dos tempos de sonhos,  aventuras, descobertas e conquistas, que foi a década rica e mágica dos anos 70… dos inesquecíveis  embalos de sábado à noite).

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“Meu Encontro Com Santa Terezinha do Menino Jesus”

Há um certo tempo atrás, tive um intrigante sonho com Santa Terezinha do Menino Jesus, também conhecida como Santa Terezinha das Rosas. O inusitado do sonho foi que nunca antes eu tivera qualquer contato com sua história ou com sua devoção… O sonho aconteceu na madrugada de 27 de setembro de 2014, três dias antes da data alusiva à sua morte (30 de setembro).

Foi um sonho maravilhoso em que a imagem de Santa Terezinha, em tamanho natural, percorria uma rua muito larga, cheia de casas, como se estivesse à procura de algo. Eu e algumas pessoas a seguíamos, logo atrás, quase em êxtase, maravilhados diante daquele acontecimento fantástico, daquela visão extraordinária, surpreendente e encantadora.

De repente, Santa Terezinha se vira para o outro lado da rua e desliza resoluta, em linha reta, em direção a uma das casas. Eu, então, saio correndo, vou até à casa para a qual ela se dirige, bato na porta ligeiramente entreaberta, empurro-a para abri-la de vez e vejo duas mulheres que estão na sala. Dirijo-me a elas, ansioso e apressado, pedindo que olhem para fora para verem o que estava acontecendo: a imagem de Santa Terezinha vinha em direção àquela casa.

As duas mulheres, maravilhadas e estupefatas, acolhem alegremente a imagem de Santa Terezinha, dando-lhe um fervoroso e forte abraço. Primeiro ela se deixa abraçar, depois, delicada e decididamente, afasta as mulheres, dá dois passos até atrás da porta, estende o braço a procura de algo, retira lá detrás um saco plástico, cheio de coisas, parece lixo, e estende a mão para entrega-lo a nós. Eu pego aquele saco e o entrego a uma das mulheres, dizendo para se livrarem dele porque era isso o que a Santa estava pedindo.

Em seguida, a imagem de Santa Terezinha sai da casa e começa a deslizar de volta para o outro lado da rua. Nisso, uma das mulheres me pergunta qual o significado daquilo e eu respondo: “Não sei, preciso refletir sobre isso!”

Nesse instante, surge do meu lado dona Josefina Guerra, uma amiga da família, a qual me abraça e diz que foi melhor não dizer nada mesmo porque não entendíamos o significado daquele acontecimento extraordinário.

Em seguida, nós dois caminhamos apressados, na direção seguida por Santa Terezinha… e eu vou pensando que preciso me tornar um homem melhor e no que fazer para isso acontecer

Assim termina o sonho. Assim começa o meu encontro com Santa Terezinha do Menino Jesus. Ainda continuo tateando no escuro, em busca de uma resposta satisfatória, uma explicação razoável  para esse evento fantástico em minha vida.

Depois de refletir por algum tempo, sem decifrar o seu verdadeiro sentido, hoje resolvi compartilhar esse sonho com outras pessoas de fé e com os devotos de Santa Terezinha do Menino Jesus, na expectativa de que alguém possa me ajudar a entender o real significado dessa mensagem enigmática.

Espero que um de vocês, com mais iluminação espiritual do que eu, possa me ajudar a compreender o teor dessa mensagem Divina, trazendo luz à Revelação que Santa Terezinha do Menino Jesus quis me fazer nesse sonho.

Que Deus nos ilumine a todos e nos conceda a sabedoria necessária para desvendar essa mensagem que Santa Terezinha nos enviou!

Que assim seja!

Amém!

Maurides Celso Leite  (um cristão cuiabano, que recebeu um sinal luminoso dos céus e que, apesar de ainda não ter compreendido toda a extensão desse mistério, se reconhece como mais uma das rosas colhidas por Santa Terezinha do Menino Jesus).

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Minhas Raízes Cuiabanas

Quem sou? Donde vim? Para onde vou? Eis uma inquietação que desafia o homem  desde os primórdios dos tempos. Continuamente nos perguntamos da nossa origem e do nosso destino. Que lugar e que papel ocupamos nessa vastidão do cosmos?

Transmudando essa inquietação para o plano pessoal, voejo em busca da minha ancestralidade, à procura das minhas raízes, em um vôo de pássaro até à árvore genealógica da família.

 Sinal civil de minha identidade, o meu nome é Maurides Celso Leite, mas poderia ser Maurides Celso Padilha Leite ou Maurides Celso Padilha Correa da Costa.  É que meu pai se chama Benedito Francisco Leite, mas deveria chamar-se Benedito Francisco Leite Correa da Costa . Leite, da minha avó, Joana, e Correa da Costa, de meu avô, Aminadabe.

Por sua vez, minha mãe, que se chama, Celina Ezidia Leite, deveria chamar-se Celina Ezidia Padilha Leite, eis que meu avô materno se chamava, João Evangelista Padilha, e a minha avó, Guilhermina Viegas Padilha. Com o casamento, porém, minha mãe foi despojada de seu sobrenome paterno, Padilha.

Há mais confusão de sobrenomes na família. Minha avó, a querida Nhanhá, em solteira se chamava, Guilhermina Viegas de Moura, pois era filha de João Gualberto de Moura. Mas, também poderia chamar-se Guilhermina Viegas de Pinho, eis que havia ascendentes seus que eram Viegas de Pinho. Aliás, Vô Jão, seu marido,  era um especialista na arte de confundir a genealogia familiar. Tanto que, ao casar-se com Nhanhá, levou esta a adotar o sobrenome Viegas Padilha, ao invés de Moura Padilha,  que seria a junção de seus sobrenomes. No primeiro filho, botou o nome de Antonio Teodoro de Pinho, em homenagem ao Santo de sua devoção. Perceba-se, nem Moura, de vovó, e nem Padilha, dele! Em outro filho, tio Vante, sapecou Fioravante Evangelista de Aniceto. Ou seja, usou um Aniceto Deus sabe lá de onde! Tio Tito, era Celestino Eugenio de Moura. Só o sobrenome de Nhanhá. Os tios, Abilio (Bio), Sebastião (Nhnhô) e Emilia (Miloca) receberam o sobrenome Viegas Padilha. Os tios, Basilia, Gabino e Isa só receberam o Padilha. Nenhum dos filhos portou o sobrenome Moura Padilha.

Consequência dessa barafunda toda é que perdemos elos de referência com a parentada. O que sei é que meus avós tem origem pantaneira. Vovô Aminadabe era de Mimoso. Família grande, tradicional. Primo segundo do ex-Governador de Mato Grosso,  Fernando Correa da Costa, a quem meu pai serviu como Oficial de Gabinete. Vovô Aminadabe também cometeu suas patacadas ao nomear a prole. Com exceção de meu pai, todos os seus demais filhos  (Adelaide, Ana Rita, Itrio, Montagas, Ibis, Neta, João Domingos, Aminadabe Filho, Maria Clara e Maria Rosa), herdaram o sobrenome, Correa. Mas ficaram sem o Costa. Minto, Aminadabe Filho, por óbvio, herdou o sobrenome completo do Pai.

As famílias de Nhanhá e Vô Jão eram de Barão de Melgaço e Mimoso, região do Estirão Cumprido e de Porto Brandão. Parte da família de Vô Jão é da região de Corumbá, onde temos alguns parentes. Também temos parentes na Região de Cáceres. Vice e versa, eis a rota urbana-fluvial-pantaneira das raízes da família: Cuiabá-Rio Cuiabá-Barão de Melgaço-Pantanal-Cáceres-Rio Paraguai-Corumbá.

Essas as minhas raízes! Leite, do São Gonçalo Beira Rio. Correa da Costa, do Mimoso. Viegas, Moura e Padilha, de Barão de Melgaço, Mimoso, Estirão Cumprido, Porto Brandão.

Cidadão cuiabano. Nascido no alto da Coxim. Criado no Terceiro de Fora e no Bairro do Baú.

Eis quem sou! Eis de onde vim!

Maurides Celso Leite (um homem que se orgulha de seu nome e de sua cidadania, que ama a sua terra, que valoriza suas raízes e que, apesar da confusão de sobrenomes, tem uma identidade certa: Pantaneiro de origem, Cuiabano de Chapa e Cruz!)

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NÃO É DE MANHÃ, SIMININO, É BEM CEDO!

Cuiabano de Chapa e Cruz não diz “DE MANHÔ, diz “BEM CEDO”. Então, ao ouvir um cuiabano dizer “BEM CEDO vou viajar”, saiba que  a viagem será de manhã… Se será no início, no meio ou no fim da manhã, ai já são outros quinhentos!

A nossa Cuiabá tem dessas coisas diferentes, com cheiro e sabor da terra, que só os iniciados na cuiabanidade  conseguem entender… São sinais, traços de uma cultura tricentenária que os desmandos do progresso não conseguiram sepultar…

A riqueza linguística cuiabana precisa ser,  cada vez mais, motivo de orgulho para todos nós, pois se trata de uma manifestação cultural das mais genuínas e belas da Língua Portuguesa Brasileira…

De tão caçoados que fomos ao longo do tempo, passamos a nos sentir uns brocoiós, uns ignorantes… Mas, já está na hora de discobrar daqueles que desvaleram de nós… Não vamos pedir-lhes pra calarem o bico ou pra darem o pira daqui porque somos hospitaleiros e educados…

Passa da hora, porém, de lembrarmos a todos que esta terra tem história, tem valor. Tem a fortidão daqueles que construíram a grandeza da pátria, sejam os índios que serviram aos bandeirantes, sejam os brancos, como Rondon e Dom Aquino, que orgulhariam e enriqueceriam a história de qualquer nação…

Esta terra é o berço de Silva Freire, um talentoso escultor da língua portuguesa, cuja pena dava vida aos sons das matas, dos rios, dos pássaros, das gentes destas paragens bororas, poetando palavras de simetria geométrica, que encantavam nativos e visitantes.

Esta é uma terra de quem tem raízes. De quem sorve a seiva do fundo do solo e encontra valores imorredouros na simplicidade da reza cantada do cururu, no som dolente da viola de cocho e no macio deslizar da canoa cabocla (que meu avô construía com maestria) cortando as águas do meu Cuiabá.

Não é de manhã, si minino, é bem cedo! Assim diria Nhanhá, minha saudosa avó, Guilhermina! Assim devemos dizer nós todos para preservar essa riqueza, que é nossa, que nos diferencia e que não podemos deixar perder na poeira do tempo.

Está certo que a globalização, via comunicação, televisão, computadores, internet, ifhone, ipad, etc, transformou a terra em uma pequena aldeia, onde usos, costumes e falares se universalizam a grande velocidade.

Nesse panorama, a moderna Cuiabá se recusa a viver no passado! Precisa, entretanto, trazer para o presente seus marcantes valores culturais, os quais hão de ser preservados como instrumentos de sua identidade sócio-histórico-cultural.

É preciso aloitar com os novos tempos para continuar a dizer, como os nossos avós: “NÃO É DE MANHÃ, SI MININO, É BEM CEDO!

Sinto um carinho na alma quando escuito alguém falar desse jeito!

Maurides Celso Leite (um cuiabano-de-pé-rachado, que passava os finais-de-semana no sítio de seu Avô, Henrique, na comunidade do Quebra-Pote e que, antes de se enfurnar nas roças de milho, mandioca, melancia e abóbora, plantadas por ele, degustava um delicioso quebra-torto feito por sua Avó, Joaninha, uma legítima cabocla da Comunidade de São Gonçalo Beira Rio).

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